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quarta-feira, 20 de maio de 2009

Teoria e Prática

Esse texto é da minha mãe. É uma resposta a um exercício proposto no final do curso de Cuidador de Idosos da Prefeitura do Rio. O curso tem a duração de 2 meses e conta com 4 aulas práticas. É sobre isso que a minha mãe fala.



Bagagem Horária


Duzentas horas... não sei se houve troca, pois não sei o que dei ou quanto doei-me, mas com certeza aprendi com todos: instrutores, colegas e principalmente, com os idosos, Muito vou levar, até daqueles que, lamentavelmente, acham que só têm a ensinar. Vivi verdades teóricas e práticas mentirosas ou será que eram mentiras teóricas e práticas verdadeiras... não importa, se o significado da palavra verdade é o que se experimenta, que se alcance na prática a teoria, aquela que condiz com o respeito, com a dignidade, com o amor ao próximo, com o comprometimento com o fazer melhor.

Falar de cada um não seria difícil já que soube de lutas, dificuldades, barreiras vencidas e a serem vencidas. Percebi procura por mudanças, senti a garra de cada um... obrigada, por compartilharem essas duzentas horas comigo. Mas, a maior lição eu vou levar de alguém especial, pelo exemplo maior de força, alguém que por diversas vezes chegou pernoitada, que esteve sempre alegre ou passa sempre uma alegria, participativa, que doou os seus conhecimentos. Foi uma tranqüilidade tê-la como companheira no estágio. Aquela que assim como a outra, que também teve seu filho assassinado, não perdeu a doçura e não deve ser por acaso que se chama Maria (Cecília).

Senti o aconchego das mãos enrugadas pelo tempo, muitas que outrora foram produtivas, laboriosas e agora retinham as minhas, buscando segurança, carinho, o elo, a certeza de não mais estar sozinho. Ouvi histórias e muitas vezes me encontrei nelas, lembrei do avô, da avó, da mãe, pessoas queridas e desconhecidas daquelas, mas com histórias tão parecidas, identifiquei-me e me projetei.

“Verbalizei a paciência” para ouvir tantas vezes a mesma história, para manter o diálogo confuso, por não ter a resposta de tantas perguntas, para conter a indignação por não poder mudar a instituição, por ser mais um elemento em atuação e não de transformação. Mais uma vez, senti-me impotente diante da vida.
Penetrei os olhos que falam e perguntei-me: será que são tão expressivos porque não conseguem mais a comunicação verbal. Como dizem tantas coisas, pedem socorros, externam a tristeza e a alegria. Vou guardar para sempre os olhos de Laura, não porque eram de um azul lindo, mas porque eles refletiam a sua alma, eram os mais intensos.

Quantas horas têm uma vida? Algumas desperdiçadas, outras bem vividas, há ainda aquelas sofridas, tristes, doloridas. Há as só de alegria, esperança, fé, e nessas duzentas horas... vivi todas elas, ali contidas.

Eunice Loureiro Dias




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quinta-feira, 7 de maio de 2009

Um novo golpe em Brasília

Gostaria muito de começar este texto escrevendo a seguinte frase: Não se assustem, meus amigos, o título da nossa crônica é apenas uma brincadeira de muito mal gosto, diga-se de passagem. Mas para nossa infelicidade não posso escrever isso. Pois mais uma vez, para nosso desespero, nossos “respeitáveis e nobres” deputados federais (ops, desculpem-me pelo palavrão), após diversos escândalos, estão preparando mais um vergonhoso e duro golpe na nossa já tão maltratada – por eles mesmos – democracia, que tantos brasileiros honrados deram suas vidas para que essa corja aproveite-se agora dela.


Minha raiva e descontentamento explícito no parágrafo acima podem ser explicados pelo que vou descrever a partir deste ponto. Depois de tantos escândalos e demonstrações públicas de pouco ou nenhum respeito pela sociedade brasileira, que é quem paga pelos serviços(?) que eles nos prestam, agora eles surgem com mais uma “brilhante” ideia para as próximas eleições proporcionais – deputados federais e estaduais e vereadores. Eles querem agora que nós votemos em uma lista fechada e financiemos a campanha, isto é, não poderemos escolher o nosso candidato e ainda teremos que pagar a conta dessa festa.


É isso mesmo. Agora ao invés de escolher e votar em um candidato, não tendo a certeza de que ele será eleito e ainda correndo o risco de com esse voto eleger um bandido, como ocorre agora no nosso sistema eleitoral, nós teremos que escolher um partido, que terá uma lista formada pelo próprio partido – leia-se seus caciques, e votar nessa legenda correndo o risco de os bons políticos, aqueles a quem nós queremos realmente eleger, estarem no final da lista ou nem conseguirem mais serem eleitos. Até porque somente serão eleitos os que estiverem no topo dessa lista e adivinhem quem vai estar nesse topo? É claro que os parentes dos grandes caciques e/ou seus apadrinhados políticos. E ainda por cima querem que toda essa festa seja financiada com o dinheiro do contribuinte, ou seja, com o nosso dinheiro. Pois essa farra toda será financiada com o dinheiro público.


Como bem lembrou a jornalista e comentarista política Lucia Hippolito, em meados do ano de 2008 foi feita uma pesquisa de opinião pública querendo saber a posição do eleitorado brasileiro sobre o assunto. O resultado foi que 74% do eleitorado foram contrários ao voto em lista fechada e 75% foram contrários ao financiamento público da campanha política. Nossos admiráveis representantes alegam que com essa reforma política os casos de financiamento de caixa dois irão terminar. Agora o que esses fascinantes cidadãos querem fazer? Será que não se importam com o que pensa o povo brasileiro? Ou será que querem se perpetuar no poder legislativo?


Nada contra o voto em lista, se ele for feito em um sistema eleitoral que tenha como esteio o sistema de voto distrital ou um sistema de governo parlamentarista, que funciona de um modo completamente diferente do nosso que é presidencialista. Pois se essa mudança acontecer o nosso sistema ficará igual ao modelo argentino. Agora, se alguém estiver curioso, que tal dar uma olhada nos sobrenomes que compõem as listas argentinas. Se você for pesquisar não se assuste, pois vai encontrar nessas listas muitos sobrenomes dos senadores argentinos.


Agora refaço a pergunta que já fiz numa outra crônica muito anterior a esta: Onde estão as classes profissionais que vivem apregoando aos quatros cantos que são os defensores da moral e da ordem pública? Onde está a OAB e as ONG’s que ainda não se pronunciaram sobre tal assunto? Será que esse tema não é digno ou importante o suficiente para elas se preocuparem e virem a público se pronunciar? Eu ainda não vi nenhuma delas ou de seus dirigentes virem ao proscênio da mídia se pronunciar sobre tal absurdo. Espero sinceramente que os políticos honestos e as instituições sérias façam sua parte para que essa proposta absurda não seja aprovada.


Tonni Nascimento