Semana passada nossa sociedade foi tomada por
uma avalanche de protestos prós e contras a uma campanha criada em decorrência de
uma violência praticada contra uma travesti dentro de uma unidade de detenção
de São Paulo.
Para quem não sabe do que se trata, é o seguinte:
Em São Paulo a travesti Verônica Bolina foi presa acusada de agressão física a
uma senhora de 73 anos. Depois de presa ela agrediu um carcereiro arrancando parte
da sua orelha e foi espancada por policiais, tendo sua imagem (pós-espancamento)
divulgada pelas redes sociais. Após esse fato iniciou-se uma campanha na
internet com o título “Somos todas Verônica” em apoio e repúdio à violência sofrida
por ela. A campanha tem recebido diversas manifestações tanto prós quanto
contra com os mais diversos argumentos. Indo dos mais coerentes aos mais absurdos
e animalescos. Mas por que tudo isso? Não vou entrar aqui na questão dela ser
culpada ou não dos crimes contra os quais ela foi acusada e presa, entretanto
vou propor a quem me lê a fazer uma reflexão.
O que nos diferencia, seres humanos, dos outros
animais que vivem no planeta? A capacidade de raciocinar e, por consequência, de
resolver questões das mais simples às mais complexas de forma racional, justa e
imparcial, permitindo assim que nossa sociedade se autoproteja dos indivíduos que
venham a perturbar esse processo. Essa autoproteção não exclui ninguém, ou pelo
menos não deveria, ela tem que servir a todos sem exceção de qualquer que seja
a parcela da sociedade.
Partindo dos pressupostos acima citados não há
a menor possibilidade de um ser humano em totais condições mentais ser a favor
da violência praticada contra Verônica. Não estou aqui aplaudindo o crime pelo
qual ela está sendo acusada, mas deixando claro que o papel da sociedade é
cuidar que os cidadãos que quebram os acordos sociais de comportamento e autoproteção
sejam punidos de acordo com a lei de forma justa. E, para que isso ocorra, uma
das primeiras ações é protegê-los de si mesmos ou dos que acreditam que tem o
direito de praticar sua própria lei. E não foi o que ocorreu nesse caso. Verônica
foi espancada dentro de uma unidade pública por aqueles que deveriam
protegê-la.
É inadmissível que em pleno século 21 ainda
tenhamos que conviver com atitudes que nos remetem a tempos onde cada um
praticava sua lei. Já deveríamos estar cansados de tantos casos de “justiça” praticada
com as próprias mãos, sejam com supostos criminosos ou réus confessos. Temos um
sistema de justiça, que por mais falho que seja é o que temos e é o que devemos
respeitar. É chegada a hora em que a sociedade comece a questionar o que ela realmente
quer para si, se uma civilização justa ou uma que sempre volte aos tempos de
barbárie.
Tonni Nascimento