Você se lembra dos seus primeiros anos de vida? De como tudo era novo e mágico e o mundo parecia um lugar imenso de mistérios intimidadores? Ainda bem que você era acompanhado de dois super-heróis prontos para te ajudar: papai e mamãe.
Lembra de como o quintal ou a rua em frente à sua casa pareciam um mundo de infinitas possibilidades onde amigos reais e imaginários poderiam ser o que quisessem?
Lembra de como as “tias” da escola pareciam imensas e inteligentes, sempre sabendo como resolver aqueles trabalhinhos complicados que te davam para fazer na escola?
Ah, que delícia era ser o desbravador do mundo: encontrar casulos pendurados em árvores perto de casa, ralar o joelho e saber que a super-mamãe está sempre lá para te salvar, rolar na grama e sair cheio de carrapichos pendurados pela roupa, ser o melhor jogador da rua (mesmo que os outros jogadores todos apontem para si dizendo o mesmo)...
Mas aí algo acontece.
É difícil definir quando esse momento chega, mas acaba sendo em algum ponto entre o dia em que você deixa de desenhar o seu próprio nome para efetivamente escrevê-lo e o dia em que você descobre que o Papai Noel e o Coelhinho da Páscoa não existem exatamente na forma de pessoas. De repente o mundo passa a não ser tão grande quanto se imaginava, o que antes era misterioso passa a se tornar conhecido e catalogado e papai e mamãe deixam de ser tão super assim.
Agora você já pode ir até a padaria ou ao mercadinho da vizinhança quando sua mãe pede, os livros que você lê começam a ter mais palavras do que figuras, a tia da escola começa a mostrar a ciência por trás da magia do mundo e você já descobriu um punhado de coisas em que papai e mamãe não são nem de longe tão bons quanto você imaginava.
E a vida continua a acabar com a festa. Ela te força a aprender o que é a decepção, a morte e todo um mundo de eventos e sentimentos longe do colo da mamãe.
E quando você se dá conta, ela já se foi. Aquela inocência dos olhos de criança dá espaço a discussões sobre política, religião, guerras, estudo, trabalho, dinheiro... Bem vindo ao mundo adulto!
Parece um quadro meio apocalíptico, eu sei, mas toda grande mudança é assim, não é? O que a lagarta chama de fim, é apenas o começo para a borboleta.
Por mais que a inocência se vá, se você for esperto o suficiente, vai saber manter o espírito jovem. E essa é que é a grande sacada para a vida adulta: crescer, mas manter uma certa jovialidade, uma certa curiosidade e uma certa visão imaginativa que só uma criança poderia ter, pois só assim você vai conseguir perceber que a vida deixou de ser uma festa de criança para se tornar um baile que pode ser tão divertido quanto a festa, apesar de ter um pouquinho mais de regras.
E, quando você menos espera, se da conta que está agradecido por aquela inocência infantil ter ido embora, porque só assim você consegue escapar de certas armadilhas do baile da vida adulta. Vai ver que é exatamente por isso que crianças não podem entrar nesse baile, né? E, nossa, como ele se torna magicamente maravilhoso quando você descobre certas verdades com as quais só um adulto consegue lidar. Mas o mais interessante é exatamente isso: a magia não acaba, apenas muda de roupagem a cada nova dança, a cada novo ritmo. E como perde aquele que fica se escondendo pelos cantos, sentado longe da pista de dança, apenas praguejando a própria sorte.
Vamos celebrar o fim da inocência e a beleza da vida adulta! Conceda a si mesmo o prazer desta dança!