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domingo, 22 de julho de 2007

A Perda da Inocência

Você se lembra dos seus primeiros anos de vida? De como tudo era novo e mágico e o mundo parecia um lugar imenso de mistérios intimidadores? Ainda bem que você era acompanhado de dois super-heróis prontos para te ajudar: papai e mamãe.

Lembra de como o quintal ou a rua em frente à sua casa pareciam um mundo de infinitas possibilidades onde amigos reais e imaginários poderiam ser o que quisessem?

Lembra de como as “tias” da escola pareciam imensas e inteligentes, sempre sabendo como resolver aqueles trabalhinhos complicados que te davam para fazer na escola?

Ah, que delícia era ser o desbravador do mundo: encontrar casulos pendurados em árvores perto de casa, ralar o joelho e saber que a super-mamãe está sempre lá para te salvar, rolar na grama e sair cheio de carrapichos pendurados pela roupa, ser o melhor jogador da rua (mesmo que os outros jogadores todos apontem para si dizendo o mesmo)...

Mas aí algo acontece.

É difícil definir quando esse momento chega, mas acaba sendo em algum ponto entre o dia em que você deixa de desenhar o seu próprio nome para efetivamente escrevê-lo e o dia em que você descobre que o Papai Noel e o Coelhinho da Páscoa não existem exatamente na forma de pessoas. De repente o mundo passa a não ser tão grande quanto se imaginava, o que antes era misterioso passa a se tornar conhecido e catalogado e papai e mamãe deixam de ser tão super assim.

Agora você já pode ir até a padaria ou ao mercadinho da vizinhança quando sua mãe pede, os livros que você lê começam a ter mais palavras do que figuras, a tia da escola começa a mostrar a ciência por trás da magia do mundo e você já descobriu um punhado de coisas em que papai e mamãe não são nem de longe tão bons quanto você imaginava.

E a vida continua a acabar com a festa. Ela te força a aprender o que é a decepção, a morte e todo um mundo de eventos e sentimentos longe do colo da mamãe.

E quando você se dá conta, ela já se foi. Aquela inocência dos olhos de criança dá espaço a discussões sobre política, religião, guerras, estudo, trabalho, dinheiro... Bem vindo ao mundo adulto!

Parece um quadro meio apocalíptico, eu sei, mas toda grande mudança é assim, não é? O que a lagarta chama de fim, é apenas o começo para a borboleta.

Por mais que a inocência se vá, se você for esperto o suficiente, vai saber manter o espírito jovem. E essa é que é a grande sacada para a vida adulta: crescer, mas manter uma certa jovialidade, uma certa curiosidade e uma certa visão imaginativa que só uma criança poderia ter, pois só assim você vai conseguir perceber que a vida deixou de ser uma festa de criança para se tornar um baile que pode ser tão divertido quanto a festa, apesar de ter um pouquinho mais de regras.

E, quando você menos espera, se da conta que está agradecido por aquela inocência infantil ter ido embora, porque só assim você consegue escapar de certas armadilhas do baile da vida adulta. Vai ver que é exatamente por isso que crianças não podem entrar nesse baile, né? E, nossa, como ele se torna magicamente maravilhoso quando você descobre certas verdades com as quais só um adulto consegue lidar. Mas o mais interessante é exatamente isso: a magia não acaba, apenas muda de roupagem a cada nova dança, a cada novo ritmo. E como perde aquele que fica se escondendo pelos cantos, sentado longe da pista de dança, apenas praguejando a própria sorte.

Vamos celebrar o fim da inocência e a beleza da vida adulta! Conceda a si mesmo o prazer desta dança!

5 comentários:

Anônimo disse...

Cadê meus direitos autorais??? O que será do começo sem o fim? Risos...

Lindo texto amor, já disse, um dos melhores...

Claudio Costa disse...

Como você disse: há um momento de perda da inocência. Este é o preço que pagamos para evoluirmos, pisar no chão, cair na real, "virar gente". Quem não "perde a inocência" se torna pior que um ignorante, torna-se "ingênuo", aquele que "não conhece o que deveria conhecer". Os psicanalistas chamam a essa tomada de consciência de "castração", ou seja, perda da onipotência imaginária e ilusória e aceitação das limitações da vida (simbolicamente e realmente [a Morte].
Obs.- bom descobrir um blog tão substancioso e leve ao mesmo tempo. Voltarei.

Carla Luz disse...

CARACAAA!
Eu amei o texto!
Eu senti cada coisa que você falou!
A mudança de criança - adolescência- adulteza (vamos dizer assim) pra fim foi "traumática". Mas pude descobrir o valor de cada época e estou aprendendo a saborear cada momento.
Só duas coisas com as quais eu ainda não me acostumo: ser chamada de tia pelas pessoas de mais de 15 anos e ser chamada de professora pelos alunos do Ensino médio. Ainda não me sinto A professora... mas acho que vou me acostumar!

Abração!!!

D@y@ne disse...

Oiiiiiii...
ow bligadinha pelo conselho...mas tenho medo de falar com ele e ele me dar um fora...pois já falou várias vezes que não quer nada sério nem que eu me rastejasse a ele(o que jamais faria)...
bjussss...

Tonni Nascimento disse...

Estou sem palavras para definir o que sinto após ler esse texto.

Acho que nem é preciso falar, basta apenas colocar uma roupa bastante confortável e curtir essa dança enquanto nos for permitido ficar no baile.

Parabéns! Excelente texto.