Abro a porta do meu carro e de cara coloco um CD do Bruno e Marrone. Fecho as janelas para que meus vizinhos não descubram que eu sou uma brega não-assumida. Aumento o volume e vou refletindo sobre essa sua mania de me deixar pra trás. Essa sua mania de me dizer que estou errada em tudo que eu faço e que nem que eu tente mil vezes, conseguirei ultrapassar a barreira da tua masculinidade.
Aí eu penso, penso, penso e chego a conclusão que eu não quero ultrapassar a barreira de ninguém. Mal consigo lidar com a minha própria. Me dou conta de que eu só quero alguém para dar a mão e caminhar na beira do mar catando conchinhas.
Mas você insistiu todos esses anos em me dizer que eu não era boa o suficiente para você. Mas quer saber? Ninguém nunca vai ser boa o suficiente para você e, ao invés de isso me animar, me deixa triste, porque depois de mim você só vai conseguir conviver com você mesmo. Aliás, é isso que você faz de melhor.
E eu que passei grande parte desse tempo acreditando nessa história de que você seria o pai dos meus 12 filhos e nossa primeira aquisição seria uma fazendinha cheia de patinhos brancos bonitinhos.
O fato é que o patinho fui eu o tempo todo, todo o tempo do mundo. Fui eu em quem nadou num laguinho pra lá e pra cá. Cansei de nadar e não encontrar meu porto seguro, cansei de esperar que você me salvasse das dores do mundo e que me protegesse com teu abraço. Mas eu cansei também de ser a menininha chorona que não deixava você ir embora porque morreria de saudade. Nessa brincadeira toda, eu fui embora de mim mesma e você ficou, dentro desta gravata azul, muito bem guardado.
Não quero mais ser a maluca que quer ficar bonita pra você, ficar cheirosa pra você, ficar legal pra você. Não quero mais procurar paixão e encontrar indiferença.
E agora eu quero mesmo é que você continue esse valentão que pode pegar todas, mas que no fundo não pega nenhuma. Essa sua mania de não entender o que eu sinto me fez entender perfeitamente o que eu sinto. E é só por isso que eu tenho que te agradecer.
Consigo me olhar no espelho agora e me ver mais claramente. E perceber o quanto eu sou maravilhosa. E agora eu posso dizer que você é pouco pra mim. E quer saber mais uma coisa? A minha verdadeira loucura sempre foi tentar desculpar o que não tem desculpa.
Juliana Farias
2 comentários:
Fantásticoooo!!
Nota mil pra esse texto! Diz tanta coisa pra mim!!!
Se a maioria das mulheres descobrissem isso, talvez os homens agissem com mais verdade nos relacionamentos.
Excelente reflexão. Parabéns pelo texto.
Ah, você não podia usar uma trilha sonora no seu carro? Brincadeira, rs.
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