Quando eu era mais jovem, eu olhava para o futuro com olhos brilhantes cheios de maravilhamento. Sei que muito disso se deve à minha condição na época. Eu ainda era uma criança descobrindo o mundo e meus amigos mais próximos eram de famílias de condição financeira melhor que a minha, podendo então, comprar brinquedos mais caros e ter coisas em casa que variavam do luxo até o inatingível para mim. Fora isso, confesso que desde aquela idade a tecnologia (e a ficção científica) já prendia em muito a minha atenção. A série original de Jornada nas Estrelas me fascinava, os primeiros computadores pareciam coisas maravilhosas trazidas de outro mundo e a primeira vez que assisti Mestre Yoda tirar o cruzador estelar de Luke de dentro do Pântano, fiquei reprisando a cena na minha cabeça por horas.
Mas o tempo vai passando e nós vamos crescendo. Não há como fugir disso.
Foi em 92 que meu vocabulário mudou um pouco e meu futuro ficou abalado em suas bases. Nesse ano ECO deixou de ser apenas a reverberação do som para se tornar também uma reunião de pessoas que queriam salvar o mundo para que eu pudesse viver os sonhos que nutria na infância. Mas a situação estava feia. Buracos na camada de ozônio aqui (não dá para remendar?), superaquecimento ali (não dá para colocar um ventilador?), desmatamento acolá (eu sei plantar feijão no algodão, isso ajuda?)... Entretanto, mesmo com o nosso mundo agonizando em sua cama celestial de hospital, ainda havia uma luz de esperança na forma de guerreiros, paladinos da justiça que estavam dispostos a investir em pequenos barcos contra imensos barcos baleeiros para garantir que nosso planeta pudesse se recuperar. Aquela cena me tocou e acreditei que meu futuro seria salvo por aquelas pessoas que vestiam o verde da esperança e o branco da paz.
Passaram-se mais alguns anos nos quais o meu gosto pelas coisas tecnológicas apenas cresceu. Principalmente porque eu via essa tecnologia sendo cada vez mais usada no dia-a-dia para resolver as “doenças” do nosso planeta. Filtros em chaminés e veículos diminuíam a emissão de poluentes. Avanços tecnológicos permitiram que o CFC perdesse força em sua escavação na camada de ozônio. Até mesmo no reflorestamento eu descobri que aquelas invenções maravilhosas estavam ajudando, sem nem precisar doar o meu pé de feijão! Era o futuro que se descortinava na minha frente! Eu sabia que logo, logo a USS Enterprise apareceria numa matéria do Fantástico ou do Globo Repórter.
Mas não foi isso que vi.
O que eu descobri foi que a tecnologia estava matando tanto ou até mais do que curando e ajudando. Pessoas inventavam todo tipo de desculpa ao redor do mundo para pegar uma arma e matar quem estivesse por perto. Aos poucos fui descobrindo que nosso planeta, já tão carente de cuidados, estava sendo banhado no sangue de seus habitantes. E isso não era novidade! “Meu Deus,” me perguntei, “onde está o ‘viemos em paz’ ou o ‘não se entregue ao lado negro da força’?”
A resposta que tive foi gás mortal sendo liberado em metrôs, homens usando seus corpos como suporte para bombas e, mais recentemente, aviões cheios de passageiros sendo lançados contra prédios. Parecia que, como a Chalenger vários anos antes, meu futuro era um foguete que não chegaria a seu destino. Foi quando descobri que meu foguete talvez nem chegasse a decolar, pois um homem precisava do combustível para seus mísseis. Ele misturava vingança, liberdade, guerra, democracia, armas de destruição em massa e favores devidos à indústria bélica de seu país no mesmo discurso como se esses termos sempre tivessem sido irmãos. E, sob suas ordens, seres humanos de diferentes nacionalidades sangraram e morreram apenas para que nosso planeta derramasse um pouco mais de seu sangue negro na “direção correta”.
Lutar contra a força daquele homem era loucura, mas podíamos, ao menos, direcioná-la para coisas construtivas. Pelo menos foi isso que outros homens pensaram ao se reunir no Japão para assinar papéis que dariam mais chances para nosso planeta se recuperar dos danos causados a ele. O homem disse que não assinaria nada. “E ai de quem tentar me forçar!” foi o que ficou subentendido quando ele foi embora.
Essa semana, ouvi notícias de que o mar está subindo por conta do aquecimento global. Em cem anos o mar subirá mais um metro causando enchentes e alterações geo-climáticas até para aqueles que vivem longe do litoral. Esses mesmos cem anos são o tempo que levará para que o processo de desertificação do Brasil destrua todo o território do país. Então esse é o futuro que me espera? Entre o deserto escaldante a as águas assassinas?
Parei e pensei por muito tempo. Será que não aprendemos nada de 92 até hoje? Pensei mais e vi que a pergunta era mais profunda. Será que não aprendemos nada nesses 3,5 milhões de anos nos quais o homem vive na Terra? Acho que não. Ser humano significaria ser aquele por trás do taser, do sabre de luz ou dos canhões de plasma. Ser o usuário e não a ferramenta. Teríamos que pensar, ponderar, criticar e decidir com sabedoria antes de tomar ações.
Não é isso que fazemos.
No fim eu acho que somos como as máquinas que criamos, repetindo a mesma tarefa dia após dia, sem muita imaginação ou variação. Matamos uns aos outros porque é o que sempre fizemos. Continuamos destruindo o planeta porque é o que sempre fizemos. E responsabilizamos nossos “vizinhos” porque é o que sempre fizemos. E enquanto não assumirmos que a culpa é nossa e pararmos de perder tempos com brigas sem sentido e com tantas outras besteiras, enquanto não superarmos esse estado de “máquina de carne”, jamais chegaremos realmente ao futuro.
Mas o tempo vai passando e nós vamos crescendo. Não há como fugir disso.
Foi em 92 que meu vocabulário mudou um pouco e meu futuro ficou abalado em suas bases. Nesse ano ECO deixou de ser apenas a reverberação do som para se tornar também uma reunião de pessoas que queriam salvar o mundo para que eu pudesse viver os sonhos que nutria na infância. Mas a situação estava feia. Buracos na camada de ozônio aqui (não dá para remendar?), superaquecimento ali (não dá para colocar um ventilador?), desmatamento acolá (eu sei plantar feijão no algodão, isso ajuda?)... Entretanto, mesmo com o nosso mundo agonizando em sua cama celestial de hospital, ainda havia uma luz de esperança na forma de guerreiros, paladinos da justiça que estavam dispostos a investir em pequenos barcos contra imensos barcos baleeiros para garantir que nosso planeta pudesse se recuperar. Aquela cena me tocou e acreditei que meu futuro seria salvo por aquelas pessoas que vestiam o verde da esperança e o branco da paz.
Passaram-se mais alguns anos nos quais o meu gosto pelas coisas tecnológicas apenas cresceu. Principalmente porque eu via essa tecnologia sendo cada vez mais usada no dia-a-dia para resolver as “doenças” do nosso planeta. Filtros em chaminés e veículos diminuíam a emissão de poluentes. Avanços tecnológicos permitiram que o CFC perdesse força em sua escavação na camada de ozônio. Até mesmo no reflorestamento eu descobri que aquelas invenções maravilhosas estavam ajudando, sem nem precisar doar o meu pé de feijão! Era o futuro que se descortinava na minha frente! Eu sabia que logo, logo a USS Enterprise apareceria numa matéria do Fantástico ou do Globo Repórter.
Mas não foi isso que vi.
O que eu descobri foi que a tecnologia estava matando tanto ou até mais do que curando e ajudando. Pessoas inventavam todo tipo de desculpa ao redor do mundo para pegar uma arma e matar quem estivesse por perto. Aos poucos fui descobrindo que nosso planeta, já tão carente de cuidados, estava sendo banhado no sangue de seus habitantes. E isso não era novidade! “Meu Deus,” me perguntei, “onde está o ‘viemos em paz’ ou o ‘não se entregue ao lado negro da força’?”
A resposta que tive foi gás mortal sendo liberado em metrôs, homens usando seus corpos como suporte para bombas e, mais recentemente, aviões cheios de passageiros sendo lançados contra prédios. Parecia que, como a Chalenger vários anos antes, meu futuro era um foguete que não chegaria a seu destino. Foi quando descobri que meu foguete talvez nem chegasse a decolar, pois um homem precisava do combustível para seus mísseis. Ele misturava vingança, liberdade, guerra, democracia, armas de destruição em massa e favores devidos à indústria bélica de seu país no mesmo discurso como se esses termos sempre tivessem sido irmãos. E, sob suas ordens, seres humanos de diferentes nacionalidades sangraram e morreram apenas para que nosso planeta derramasse um pouco mais de seu sangue negro na “direção correta”.
Lutar contra a força daquele homem era loucura, mas podíamos, ao menos, direcioná-la para coisas construtivas. Pelo menos foi isso que outros homens pensaram ao se reunir no Japão para assinar papéis que dariam mais chances para nosso planeta se recuperar dos danos causados a ele. O homem disse que não assinaria nada. “E ai de quem tentar me forçar!” foi o que ficou subentendido quando ele foi embora.
Essa semana, ouvi notícias de que o mar está subindo por conta do aquecimento global. Em cem anos o mar subirá mais um metro causando enchentes e alterações geo-climáticas até para aqueles que vivem longe do litoral. Esses mesmos cem anos são o tempo que levará para que o processo de desertificação do Brasil destrua todo o território do país. Então esse é o futuro que me espera? Entre o deserto escaldante a as águas assassinas?
Parei e pensei por muito tempo. Será que não aprendemos nada de 92 até hoje? Pensei mais e vi que a pergunta era mais profunda. Será que não aprendemos nada nesses 3,5 milhões de anos nos quais o homem vive na Terra? Acho que não. Ser humano significaria ser aquele por trás do taser, do sabre de luz ou dos canhões de plasma. Ser o usuário e não a ferramenta. Teríamos que pensar, ponderar, criticar e decidir com sabedoria antes de tomar ações.
Não é isso que fazemos.
No fim eu acho que somos como as máquinas que criamos, repetindo a mesma tarefa dia após dia, sem muita imaginação ou variação. Matamos uns aos outros porque é o que sempre fizemos. Continuamos destruindo o planeta porque é o que sempre fizemos. E responsabilizamos nossos “vizinhos” porque é o que sempre fizemos. E enquanto não assumirmos que a culpa é nossa e pararmos de perder tempos com brigas sem sentido e com tantas outras besteiras, enquanto não superarmos esse estado de “máquina de carne”, jamais chegaremos realmente ao futuro.
2 comentários:
Catastófrico sim, mas também realista e muito inteligente... Acho que faltou mais um cadinho de soluções práticas, mas gostei muito.
Ficam algumas perguntas... desde então, quantas árvores já plantou? Deixou de comprar spray com CFO? Coleta seletiva do lixo em casa? Reciclagem de papéis, plástico, latas e afins?
Só consicenteização não nos leva ao avanço, é preciso agir... Pois ainda dá tempo de reparar para nossos tataranetos, e quem sabe, para nós mesmos futuramente....
Beijocas e mto amor...
Seu texto é um excelente meio de reflexão, mas como a Cla disse temos que aliar às nossas idéias os atos. E o que temos feito quanto a isso? Infelizmente muito pouco ou nada. Não precisamos agir como os caras do Green Peace, mas basta que evitemos gastar tanto papel para imprimir texto inúteis, fechar a torneira enquanto nos barbeamos/depilamos e oura gama de pequenos atos mas que seriam de enorme valor para o nosso planeta e as futuras gerações.
Mas a reflexão já basta como um primeiro passo, agora só faltam o segundo, o terceiro, o quarto e por aí vai.
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