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quarta-feira, 23 de maio de 2007

O país das rememórias!

Os antigos estudiosos da cultura de nosso país se vivessem nos dias de hoje, com certeza, perderiam argumentos para dizer que nosso país não tem memória.

Da moda à música brasileira, o que vemos é um festival de "de volta aos bons tempos" e isso já ocorre faz tanto tempo que me arrisco em dizer que muitos desses "tempos" nunca chegaram a "passar" realmente.

O melhor exemplo disso é a infinidade de bandas que se especializam em relembrar a jovem guarda, por exemplo. Tocam suas músicas, alguns até vestem-se com roupas "de época", e seus shows, apesar de apresentarem músicas que todo mundo já ouviu diversas vezes, têm um número grande de fãs que nem eram nascidos quando a moda em questão foi lançada. Esse tipo ce fenômeno, se é que posso dizer dessa forma, em pleno século XXI, me intriga, pois, se vivemos mesmo no Mundo Moderno, porque esse desejo louco de relembrar?

O que tinha de tão bom no "Nosso tempo" que não temos hoje? Músicas e novas modas continuam pipocando aqui e ali e criando uma torrente de futuros “tempos" para as gerações futuras relembrarem, afinal, se isso é algo comum no ser o humano, essa vontade de relembrar seguirá em nossos genes para a posterioridade.

De onde vem esse desejo tão grande de reviver? Se vivêssemos em 1922, ano em que se marcou o início do modernismo no Brasil, seríamos, provavelmente, alvo da chacota de Oswalds, Mários e Tarcílas sendo tachados de saudosistas, conservadores e até Parnasianos! Quando falo em Nós estou, veementemente, incluindo-me na massa que morre de saudades de He-Mans, Thunder Cats, Trens da Alegria, chicletes Ploc e músicas da Xuxa. Afinal, sentir saudade não é pecado e nós, brasileiros podemos nos dar esse luxo sem culpas porque só aqui temos uma palavra específica para designar este sentimento, o que nos dá um certo conforto em não precisar explicar um sentimento (ou, pelo menos, o seu nome) que, se posso arriscar dizer, é tipicamente brasileiro.

Mas será que é isso mesmo? Será que nós só queremos parar no tempo e viver sempre a vida que tínhamos e onde éramos "felizes e não sabíamos?" Por alguns momentos pensei sobre isso e fiquei imaginando, ou tentando me lembrar de como realmente era a minha vida naquela época. E qual não foi a surpresa ao perceber que, em meados de mil novecentos e tantos tempos, o que eu mais queria era: que o tempo passasse e o meu futuro chegasse logo! Agora, que o sopro do tempo passou sobre mim, o que eu mais quero é... continuar lá?

Não! Há de ter outro motivo para tanta nostalgia! E cismando tanto neste assunto tentei me lembrar do mundo todo neste tempo... Ele girava da mesma forma, mas nós não tínhamos que nos preocupar com as contas dos cartões de crédito, com o celular fora de área, com a ligação que ele (ou ela) não fez, com quem vamos escolher para governante...

A vida nossa de cada dia vai, aos poucos, nos consumindo e quando nos damos conta, tudo que era "legal" na nossa época já não se usa mais; já não serve; passou; e está aí a razão do desespero: Ninguém quer "passar". Talvez por isso todas as gerações passaram, passam e passarão por isso. O Ser humano não se prepara para o tempo.

Quando digo isso me refiro ao fato de que não aproveitamos o momento em que estamos. Quantos de nós "naquele tempo" sonhava em tornar-se adulto para fazer o que bem entendesse? Porque em lugar de só querer relembrar não olhamos para as inúmeras coisas que ainda podemos aprender e viver? Mesmo com todas essas divagações a saudade é um fato nosso, e muito nosso, como eu disse anteriormente. Temos de conviver com ela sim e até senti-la de vez em quando. O que não podemos é viver para ela. E não se trata só de Plocs, He-mans e Trens da Alegria...

Marília da Silva Vieira

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