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domingo, 3 de junho de 2007

Anos Incríveis

Ou Reflexões em Uma Mão de Pôquer

Não sei se todos vão lembrar de uma série chamada “Anos Incríveis”

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Essa série, que fez sucesso nos anos 90 aqui no Brasil, retrata a adolescência de Kevin Arnold durante o início dos anos 70. É uma série de um extremo realismo e de uma delicadeza e beleza intensas.
Essa série marcou a minha infância, mas eu nunca havia conseguido assistir todos os 115 episódios que a compõem. Nunca até semana passada quando, maravilhado, fechei esse ciclo que havia sido deixado aberto por tanto tempo.
E o que aconteceu foi que o episódio 111, intitulado de “Pôquer”, me fez pensar em várias coisas, incluindo esse espaço, do qual agora começo a fazer parte.

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Esse episódio em particular retrata uma das típicas noites de pôquer de Kevin Arnold, já com dezessete anos, e seus amigos do segundo grau (não consigo me habituar a falar ensino médio...). Da esquerda para a direita na imagem acima eles são Jeff Billings (que veio transferido de outra cidade), Kevin Arnold, Chuck Coleman (Kevin o conheceu no Segundo grau), Randy Mitchell (Kevin também o conheceu no Segundo grau) e Paul Pfeiffer (que é amigo de Kevin desde os primeiros anos da infância).
Conforme esse episódio vai se desenrolando, os conflitos começam a surgir. Paul, que sempre foi “alérgico a tudo”, começa a se mostrar um grande chato, sempre preocupado demais com sua saúde, entrando em conflito direto com os outros, incluindo Kevin, por causa disso. Chuck revela que sua namorada suspeita que está grávida. Randy é o “grande perdedor” das noites de poquer e é tão ruim em Matemática que talvez repita de ano e não se forme. Já Jeff está roubando no jogo, como Kevin descobre no meio do episódio.
A coisa toda esquenta como uma panela de pressão pronta a explodir, culminando com a última mão da noite. No último jogo daquela noite Kevin e seus amigos travam uma guerra de nervos, apostando alto (o “pingo” para participar da rodada é de um dólar inteiro, meu amigo!), cada um disposto a sair vencedor, provando sua superioridade frente aos outros. A voz do Kevin adulto, o narrador da série, explica: “De repente não éramos mais meninos jogando um jogo de gente grande. Éramos homens, homens em guerra. Defendendo nosso terreno, lutando por posições. Era a hora de não se ter pena, não se fazer prisioneiros. As apostas estavam feitas”
Com as apostas encerradas, as mãos são reveladas. Kevin tem um par de valetes. Chuck tem uma quase-sequência, sendo derrotado Kevin. Paul mostra dois pares, um de valetes e um de noves, derrotando Kevin. É quando Randy revela sua mão: uma trinca de setes. Tudo dependia da mão de Jeff. Ou ele ou Randy seria o vencedor daquela noite. Jeff parece nervoso. Ele olha suas cartas, passa a mão no nariz e então diz: “Eu saio. Não tenho nada...”
E Randy ganhou a bolada de quase sete dólares! “A beira da desilusão e do desespero, Randy Mitchell, o eterno perdedor, finalmente ganhou uma vez.”
É quando tudo começa a clarear para aquele quinteto de amigos. O telefone toca e é Alice, a namorada de Chuck dizendo que as suspeitas não se confirmaram; ela não estava grávida. Randy se despede dizendo que vai “malhar nos livros”. Quando todos partem, Kevin vai arrumar a mesa e fica curioso quanto às cartas de Jeff. O rapaz havia deixado seu jogo sobre a mesa com as cartas viradas para baixo. Kevin começa a desvirá-las e qual não é sua surpresa ao ver o seguinte:

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Uma quadra de reis. Jeff poderia ter ganho aquele jogo, mas preferiu deixar Randy sair vitorioso.
Esse foi o momento em que eu fui obrigado a pausar o episódio. Minha tia me chamou, pois o almoço estava pronto.
Fui me servir pensando nas amizades que fiz na minha infância e adolescência. Em como meus amigos me marcaram e ajudaram a fazer de mim a pessoa que sou hoje. Lembro do Bruno, aquele que foi o meu Paul Pfeiffer, emocionado com a redação que eu fiz na quarta série homenageando-o, me fazendo descobrir a habilidade que eu tinha com a escrita. Lembrei de professores que me impulsionaram e estimularam como os vários que fizeram o mesmo por Kevin ao longo da série. Me peguei pensando que em algumas ocasiões eu havia feito como Jeff e deixado outros ganharem só para ver o brilho da felicidade nos olhos de um amigo. Em outras ocasiões, tenho quase certeza que fizeram o mesmo por mim.
Foi quando meus pensamentos me levaram até esse blog que você agora está visitando. Percebi que a ligação que eu formei com várias pessoas ao longo da minha vida era a mesma que eu agora formava com os outros contribuintes e leitores deste blog. Me dei conta que estaríamos juntos para promover a troca de idéias, discuti-las e até brigar se necessário (não como adolescentes com hormônios em ebulição, mas como amigos adultos e maduros). E, como bons amigos, estaríamos juntos para promover o crescimento uns dos outros, acrescentar um pouco de nós mesmos nos outros e ajudá-los a serem felizes. Por conta disso, ao agradecer a Papai do Céu pela minha “merendinha” do dia, também agradeci por estar sendo agraciado com vocês, aqueles que já considero meus novos amigos. Agradeci por estar começando o que eu espero que sejam Anos Incríveis de parceria junto a vocês.
Eu ia parar por aqui, mas, ah, vocês devem estar curiosos quanto ao fim do episódio, não é?
Bem, o que acontece é que Kevin desvira a última carta e tem a revelação:

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Sim, cinco reis. Jeff estava roubando novamente. Rindo gostosamente me lembrei que meninos adolescentes são sempre meninos adolescentes.
É quando Paul retorna para buscar o casaco e Kevin se dá conta, depois de todas as rusgas que os dois tiveram durante aquela noite, que a “facilidade não declarada de relacionamento” que eles tinham durante a infância estava acabando. Quando Paul está saindo, Kevin o chama, pronto para se desculpar por tudo o que aconteceu. Mas não precisa dizer nada. Como só os grandes amigos conseguem fazer, Paul lê os sentimentos de Kevin em seu olhar. Ele então sorri e agradece, saindo em seguida.
Bruno se despediu de mim na oitava série. Nossa amizade nunca mais foi a mesma desde então. Hoje nem mesmo mantemos contato. Mas há uma parte de mim que deve sua existência a Bruno, assim como sei que o mesmo acontece com ele. E essas marcas deixadas pelos nossos amigos são a porção deles que carregamos para toda a vida do lado esquerdo do peito, seja lá mais quantas noites de pôquer ainda tivermos pela frente.

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Um grande abraço para todos vocês, meus amigos, que por aqui passarem.

Um comentário:

Anônimo disse...

Amor... já disse que ficou lindo, né?
Seja bem-vindo...
Beijocas.