É quase como um "luz câmera e ação"! Um mesclado de... Não, melhor. Uma receita de bolo. Pegue cheiro de tinta, misture com poeira, marteladas, pregos e iluminação, gente correndo, ligando, isso sem falar nas músicas que enfeitam o espaço decorando o silêncio de harmonia. Assim é a montagem de uma exposição de quadros.
O gosto desta receita deixa sabor de poesia na boca daqueles que apreciam as minúcias do trabalho. Pra quem nunca percebeu dá trabalho preparar um espaço para receber gente de todo lugar em horários regulares do dia. As preocupações são muitas, a começar pelas obras de arte em exposição. Sua conservação, segurança e é claro, a divulgação. Uma exposição não é muita coisa sem expectadores, apreciadores de arte. Curiosos. Gente que tenha prazer de experimentar os afetos que são gerados quando entramos em contato com o novo, com o belo, o sublime, ou o profano. Quando testamos nossas sensações. E essa grande obra de arte, a exposição, só está completa quando existe a interação.
Sabemos que na sociedade em que estamos inseridos a arte é produto de difícil acesso, seja pelo desconhecimento ou pelo desinteresse gerado, dentre muitos motivos, por uma vida cheia de prioridades e tempo escasso. Mas não podemos negar que ela esteja presente em nossas vidas. A novela nossa de cada dia, o livro, o filme, o quadro da nossa parede. A arte está inserida na nossa maneira de falar, e muitas vezes nos causa um certo estranhamento. Estranhamento maior causam as artes plásticas e a pintura, pois grande parte da nossa população não tem acesso ou conhecimento que deveria ser devidamente disseminado nas escolas, particulares ou não. Nossos jovens crescem sem senso crítico e o hábito de percorrer galerias de arte. Se a arte não serve como ponto de reflexão, certamente serve ao espírito.
É nesse espírito que devemos nos apoiar para ao menos arriscar e comprovar ou não nossas expectativas quanto à uma exposição. Ir à um espaço dedicado à quadros de diversos autores pode ser uma tarefa árdua se o prazer não estiver presente. Os olhos costumam ser críticos demais, porém sem fundamentação. A pós-modernidade faz isso. Nos deixa senhores da verdade que nos é peculiar sem necessidade de embasamento, assim como permite que tudo seja pintado e que seja considerado arte. Uma afirmação corajosa, ou perigosa? Isso depende. O mercado de arte dita, como em qualquer outra área, as regras do que é caro, do que vende, do que é belo. A relação entre expectador-autor-e-obra acaba sendo mais estética que profunda. É visual encontrarmos uma galeria cheia de olhos grandes e brilhosos. Até onde vai o brilho? A arte nos faz sentir para refletir. A reflexão é o feedback.
Exemplo. Vamos a um centro cultural e observamos um quadro. Nele, árvores reproduzidas em tinta óleo. No quadro, bem colorido, encontramos árvores representadas de diversas cores reproduzidas em pinceladas grossas, além disso uma imagem que parece ser a de um parque e uma leve marca de tinta escorrida, como se o quadro estivesse inacabado. Para qualquer pessoa normal, ou o quadro não foi terminado ou o quadro foi mau feito. O artista não teve o cuidado de deixá-lo secar. Na verdade, o que deveria ser observado, além disso é que essa marca pode simbolizar a efemeridade da árvore. O tempo de vida que aquela bela planta tem. Indica que a árvore pode ser tão transitória, passageira, quanto na vida real. Assim como a obra. Que as pinceladas grossas identificam um estilo que remete à vanguarda européia expressionista. Mas sobretudo, se a árvore do quadro nos faz sentir sua rigidez, a testura de suas folhas, se ela nos faz sentir a sombra que ela pode gerar, a suavidade do vento percorrendo suas folhas. Arte é sentir.
Mas os caminhos entre o bom gosto do saber e a medicridade da desinformação deliberada são tortuosos. O Brasil é complexo em sua cultura, especialmente nos investimentos que se prestam a esta cultura dada a carência de que sofre nas mais diversas áreas de sua sociedade. Aparentemente o problema se dilui na medida em que as empresas têm decréscimos nos impostos por apoiarem projetos culturais, mas o problema está muito mais profundo. Nas raízes de nossa cultura. Marginalização e nivelamento social, são apenas alguns dos aspectos que impedem o desenvolvimento de uma visão artística melhor.
No fim das contas a experiência estética de se ir a uma galeria de artes plásticas é como a de ir ao cinema de um shopping center. Você tem um custo para ir até lá. Assiste, algumas vezes dislumbrado, noutras vocês simplesmente dorme. Ao final, você sai de um mundo para cair de pára-quedas no meio de outro e em questão de segundos o seu momento de reflexão acaba. Pronto. Fim de filme.
Bruno Fernandes.
O gosto desta receita deixa sabor de poesia na boca daqueles que apreciam as minúcias do trabalho. Pra quem nunca percebeu dá trabalho preparar um espaço para receber gente de todo lugar em horários regulares do dia. As preocupações são muitas, a começar pelas obras de arte em exposição. Sua conservação, segurança e é claro, a divulgação. Uma exposição não é muita coisa sem expectadores, apreciadores de arte. Curiosos. Gente que tenha prazer de experimentar os afetos que são gerados quando entramos em contato com o novo, com o belo, o sublime, ou o profano. Quando testamos nossas sensações. E essa grande obra de arte, a exposição, só está completa quando existe a interação.
Sabemos que na sociedade em que estamos inseridos a arte é produto de difícil acesso, seja pelo desconhecimento ou pelo desinteresse gerado, dentre muitos motivos, por uma vida cheia de prioridades e tempo escasso. Mas não podemos negar que ela esteja presente em nossas vidas. A novela nossa de cada dia, o livro, o filme, o quadro da nossa parede. A arte está inserida na nossa maneira de falar, e muitas vezes nos causa um certo estranhamento. Estranhamento maior causam as artes plásticas e a pintura, pois grande parte da nossa população não tem acesso ou conhecimento que deveria ser devidamente disseminado nas escolas, particulares ou não. Nossos jovens crescem sem senso crítico e o hábito de percorrer galerias de arte. Se a arte não serve como ponto de reflexão, certamente serve ao espírito.
É nesse espírito que devemos nos apoiar para ao menos arriscar e comprovar ou não nossas expectativas quanto à uma exposição. Ir à um espaço dedicado à quadros de diversos autores pode ser uma tarefa árdua se o prazer não estiver presente. Os olhos costumam ser críticos demais, porém sem fundamentação. A pós-modernidade faz isso. Nos deixa senhores da verdade que nos é peculiar sem necessidade de embasamento, assim como permite que tudo seja pintado e que seja considerado arte. Uma afirmação corajosa, ou perigosa? Isso depende. O mercado de arte dita, como em qualquer outra área, as regras do que é caro, do que vende, do que é belo. A relação entre expectador-autor-e-obra acaba sendo mais estética que profunda. É visual encontrarmos uma galeria cheia de olhos grandes e brilhosos. Até onde vai o brilho? A arte nos faz sentir para refletir. A reflexão é o feedback.
Exemplo. Vamos a um centro cultural e observamos um quadro. Nele, árvores reproduzidas em tinta óleo. No quadro, bem colorido, encontramos árvores representadas de diversas cores reproduzidas em pinceladas grossas, além disso uma imagem que parece ser a de um parque e uma leve marca de tinta escorrida, como se o quadro estivesse inacabado. Para qualquer pessoa normal, ou o quadro não foi terminado ou o quadro foi mau feito. O artista não teve o cuidado de deixá-lo secar. Na verdade, o que deveria ser observado, além disso é que essa marca pode simbolizar a efemeridade da árvore. O tempo de vida que aquela bela planta tem. Indica que a árvore pode ser tão transitória, passageira, quanto na vida real. Assim como a obra. Que as pinceladas grossas identificam um estilo que remete à vanguarda européia expressionista. Mas sobretudo, se a árvore do quadro nos faz sentir sua rigidez, a testura de suas folhas, se ela nos faz sentir a sombra que ela pode gerar, a suavidade do vento percorrendo suas folhas. Arte é sentir.
Mas os caminhos entre o bom gosto do saber e a medicridade da desinformação deliberada são tortuosos. O Brasil é complexo em sua cultura, especialmente nos investimentos que se prestam a esta cultura dada a carência de que sofre nas mais diversas áreas de sua sociedade. Aparentemente o problema se dilui na medida em que as empresas têm decréscimos nos impostos por apoiarem projetos culturais, mas o problema está muito mais profundo. Nas raízes de nossa cultura. Marginalização e nivelamento social, são apenas alguns dos aspectos que impedem o desenvolvimento de uma visão artística melhor.
No fim das contas a experiência estética de se ir a uma galeria de artes plásticas é como a de ir ao cinema de um shopping center. Você tem um custo para ir até lá. Assiste, algumas vezes dislumbrado, noutras vocês simplesmente dorme. Ao final, você sai de um mundo para cair de pára-quedas no meio de outro e em questão de segundos o seu momento de reflexão acaba. Pronto. Fim de filme.
Bruno Fernandes.
Um comentário:
Infelizmente em um país onde a educação e saúde ficam no final da fila quando o assunto é prioridade do governo, não devemos esperar uma posição melhor,nessa mesma fila, para a cultura. E sigamos convivendo com as Bundas e Cia. que nos empurram goelas abaixo.
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