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terça-feira, 22 de maio de 2007

Vamos catar fusquinha?

Há pouco tempo estive em Brasília visitando alguns familiares e cumpri mais uma vez o roteiro turístico da cidade, com direito a fotos e paradas nos lugares históricos.

Passadas algumas horas de atividade num passeio sem muita motivação, meu sobrinho propôs à irmã:
- Clara, vamos catar Fusquinha?

Arregalei os olhos e com o carioquês que me é peculiar, indaguei:
- Cuméquié? Que negócio é esse de catar Fusquinha?!

Fui chamada de tonta pela sobrinha de nove anos. Não que ela estivesse me ofendendo, mas para o brasiliense, chamar alguém dessa forma é comum. Vai ver que essa mania começou no Palácio do Planalto, já que para eles, provavelmente, o resto do Brasil seja mesmo.
- Tia, deixa de se tonta! A senhora nunca brincou de catar Fusquinha?

Senti-me como um urso que tivesse hibernado pelos últimos trinta anos e não soubesse de nada. Disse que não e logo o mais velho teve a gentileza de explicar-me a mecânica da brincadeira.
- Sempre que a gente vê um Fusquinha, aponta e grita "ali um Fusquinha" e assim são marcados os pontos. Quem catar mais é o vencedor.

Achei a história meio bizarra, mas depois de conhecer o túmulo do Juscelino, procurar Fusquinha poderia ser um programa mais interessante. Não é que foi mesmo!

Localizar Fusquinha em Brasília é muito difícil. Em meio a tantos carrões, Mercedes, BMW e outros automotivos de pedigree, encontrar o dito-cujo é motivo de glória, com direito a aplausos e a disputa de quem viu primeiro.

E nessa farra, o tempo foi passando e quando demos conta, o passeio turístico tinha acabado de uma forma muito divertida.

Poucos dias depois voltei ao Rio de Janeiro e para quem conhece a cidade, sabe que por aqui tudo é longe. A geografia, que ao mesmo tempo distribuiu belezas naturais de ponta a ponta, faz com que seus moradores gastem muito tempo em deslocamentos internos. Um percurso da Zona Oeste à Zona Sul pode durar noventa minutos, praticamente a partida da decisão do Campeonato Estadual. E assim, numa saída com meu Golzinho 96, resolvi apresentar a nova brincadeira aos meus três filhos, para passar o tempo:
- Vamos catar Fusquinha?

Depois das devidas surpresas e explicações, nos pegamos procurando o bom velhinho pelas ruas do subúrbio carioca.
- Achei um. - gritou o do meio. Alguns minutos depois: – Achei outro e outro.
A primogênita achou mais uns seis e eu, mesmo com a atenção no trânsito, achei tantos outros mais. O pequenininho não teve tanta sorte, pois não soube distinguir carro algum.

Parecia que estava ocorrendo na cidade uma Convenção Nacional de Fusquinhas, tamanha a quantidade de carros dessa espécie nas ruas.
Alguns dias depois resolvemos fazer uma pequena variação, já que diferentemente de Brasília, a frota carioca está praticamente balzaquiana. E como caminhões de lixo sempre chamaram a atenção do caçulinha, resolvi mudar a brincadeira, para que o Pedrinho participasse. Expliquei, então:
- Agora é o seguinte: para cada caminhão de lixo, um ponto.

Acreditei, ingenuamente, que como a cidade do Rio de Janeiro possui as ruas tão sujas, seria difícil achar os tais caminhões. Mais um engano! Esse nosso Prefeito pode até ser maluquinho, blogueiro, criador de factóides e o escambau a quatro, mas não podemos negar: o homem bota caminhão de lixo na rua! Eles circulam pela cidade com muita freqüência. Daí surgiu uma dúvida cruel:
- Por que então a cidade é tão suja, se a Comlurb está tão presente?!
Provavelmente você responderá: mas faltam garis. O que também seria um engano: os laranjinhas estão em todos os lugares. Assim, mais uma vez, a brincadeira voltou a não ter graça.

O desafio era tentarmos descobrir um item que fosse realmente difícil de localizarmos pelas ruas da cidade. Pensamos, pensamos e aí surgiu a brilhante idéia:
- Que tal carros de polícia? - Que sacada boa você teve! – respondi.
Como não moramos na Zona Sul, onde os carros de polícia são vitrines para se dizer que o local é seguro e, também como não moramos na favela, aonde a polícia já chega de roldão, encontrarmos uma dessas viaturas pelas simpáticas ruas do subúrbio ia ser difícil. Todos toparam e a brincadeira recomeçou.

Na ida, nada. Ninguém achou um carrinho sequer para contar história. Na volta, zero para todo mundo. E assim os dias foram passando e o grau de dificuldade era tanto que a brincadeira ficou chata e tivemos que mudá-la.

Revolvemos agora procurar nave espacial dourada com bolinhas vermelhas e azuis. No auge dos seus três anos, Pedrinho está adorando o novo jogo.

Sugiro a você brincar também. É muito mais fácil, divertido e seguro do que achar um carro de polícia.

- Ih! Olha uma nave aí no alto a sua esquerda. Ponto pra mim.

Alcione Koritzky

3 comentários:

Bruno F. disse...

O tema é polêmico, o humor foi excelente. Porém, se nos esforçarmos um pouquinho mais, como bem dito no texto, dependendo da região, sim, vamos encontrar as tais viaturas.
Segurança pública não é minha especialidade, mas creio que existem muitas variáveis que justificam o atual quadro que inspira a idéia de abandono.

Abraço.

Carla Luz disse...

Eu quero achar uma nave!!! Eu quero!!!! Fusquinha já ví, caminhão de lixo também, garis também....mas nave... até agora nada!! Será que eu ainda acho alguma?
Amei o texto!!!! Amei e amei!

Anônimo disse...

Alcione... ótimo texto, vale como boa reflexão. Beijocas... e procuremos naves espaciais, e quem sabe possamos passear 10 minutos relativos por lá e voltar num tempo melhor?

Ou ainda, quem sabe possamos arregarçar as mangas e ajudar na construção da paz tão desejada???
Beijocas...