Eu lí num texto de Rubem Alves (do livro - O amor que acende a lua - que é muito bom por sinal) que nós somos um Albergue.
E que nesse albergue moram muitas pessoas. Umas boas, outras más, outras normais, outras esquezitas... Isso ficou algum tempo pairando na minha mente, sem que eu entendesse direito.
No meu albergue moram pessoas totalmente diferentes. A personalidade dominante é a dona do albergue, aquela que cobra o aluguel, que procura ver se o albergue está em boas condições, como andam os hóspedes... Essa personalidade dominante é aquela que manda e que conhece todos os outros inquilinos.
Alguns inquilinos precisam ficar presos e trancados (Rubem Alves também fala nisso e eu tenho que corcordar com ele). O meu ciúme é regido por um homem... Ele é impulsivamente impulsivo. Sente ciúmes de tudo e de todos, é aldaz, voraz, audacioso, e extremamente perigoso. Esse fica preso. Mas ele grita e como grita.
Outra é uma cigana. É "cigana oblíqüa". Essa está aprendendo a conviver com as pessoas. Vamos dizer que ela vive em regime semi-aberto, em alguns momentos ela fica trancada. Ela não grita, mas sussura... e, às vezes, é pior. Mas ela, eu sei que aprenderá a conviver com as pessoas com total educação... falta pouco pra liberdade total. Mas ela me ajuda. Eu sou tímida demais e ela é muito sensual, e muitas vezes eu preciso dela. É só ela aprender a vir com calma e não ser voraz e devoradora.
Outro inquilino é uma criança... ela é tranquila... às vezes passa correndo e cantando, fazendo bolinha de sabão... Não faz estranho algum, mas quando ela aparece sempre querem que eu volte a ser adulta... mesmo quando eu quero que a criança fique.
Tenho um deprimido dentro de mim. Um deprimido depressivo com tendências suicidas. Esse também fica trancado. Já soltei ele algumas vezes... foram os momentos mais tristes da minha vida... Eu o mantenho trancado, mas ele chora alto que dá dó. Toda vez que ele chora, me dá um aperto no peito... mas não dá pra soltá-lo. E uma vez ou outra ele pede pra morrer... Algumas vezes eu me senti tentada, foram as vezes que ele ficou solto. Se eu soltá-lo, teria que matá-lo, e isso implica em acabar comigo. Esse eu mantenho preso também.
O intelectual anda solto... O filósofo também passeia pelo hotel com liberdade... e é ele que está me ajudando a escrever esse texto. E o ansioso está aqui do lado atormentando e me deixando com dor de barriga.
O apaixonado deveria estar preso, mas me roubou a chave e anda cantarolando canções de amor e dizendo o nome de alguém a plenos pulmões, deixando o ansioso desesperado, o deprimido achando que tudo vai dar errado, o ilusionisma me enchendo de imagens bonitas e falsas na hora de dormir... ai! E eu mesmo estou perdendo o controle do albergue.
Eu preciso dominar a todos!
Apaixonado! Volta pro seu quarto! Ele não está apaixonado por nós!
Ansioso, se acalma! Não tem nada pra temer, não vai acontecer nada!
Deprimido, se alegre... não tem nada pra acontecer, não tem coisas tristes pra acontecer, só coisas alegres!
Ilusionista, pára de me mostar imagens de mim e de quem estou gostando. Eu gosto sozinha, ele nada sente por mim! Essa é a verdade!
Vamos ver se eu consigo colocar moral e restabelecer a ordem.
Eu sou uma e sou tantas....
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Eu não sei se foi um bom texto, mas eu precisava escrever isso.